segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A insegurança em Cabo-verde. Pistas para reflexão

Nos últimos anos, muito se tem falado sobre a segurança e a insegurança em Cabo-Verde.
Cabo-Verde é ou não é um País inseguro? A meu ver, não é um País inseguro. Um País com estabilidade política, social e económica, não pode ser rotulado de País inseguro.

Não obstante, nos últimos anos surgiram fenómenos inquietantes na sociedade cabo-verdiana, como o aumento da delinquência juvenil, de actos de vandalismo, de crime organizado e altamente sofisticado.

E mesmo assim o País não está inseguro? Não está. Esses fenómenos na sua esmagadoria maioria tem acontecido na cidade da Praia. Na Cidade da Praia vive uma parte significativa de cabo-verdianos, mas Praia não é Cabo-Verde. Nem na forma, nem na intensidade e nem na abrangência territorial tais fenómenos fazem com que Cabo-Verde seja um País inseguro.
O sociólogo Émile Durhkeim disse que o crime é um fenómeno normal que caracteriza todas as sociedades, sendo que a cada tipo social corresponderá um conjunto específico de crimes, assim como uma determinada taxa de crimes.
Porém, exigem uma reflexão profunda e séria da parte de toda a sociedade, porque se não acautelados, aí sim, Praia pode tonar-se uma cidade inabitável e Cabo-Verde pode tornar-se um País inseguro. Estou confiante que não vamos chegar a esse “ponto de não retorno” até porque “Praia tem Solução”.

Propunha que se criasse uma equipa multidisciplinar de cientistas sociais e humanos, a sociologia, a economia, a demografia e a geografia entre outros, e se fizesse um estudo de grande fôlego sobre as causas desses fenómenos sociais que vão assentando arraiais na sociedade cabo-verdiana. Só assim podemos actuar combatendo o mal pela raíz.

A curto prazo aceita-se que se reforce o policiamento das ruas, com todas as polícias que forem necessárias para garantir a segurança pública para dar combate ao mal que já é realidade no País. E a longo prazo? Exige-se que Sua Excia o Senhor Ministro da Administração Interna em parceria com os seus pares do Governo, porque assunto transversal, apresentem medidas de maior alcance.

A meu ver, em Cabo-Verde as coisas vão acontecendo a um ritmo mais acelerado do que a capacidade do Estado em dar resposta. Tomando por empréstimo as palavras de Thomas Malthus eu diria que a capacidade do Estado em dar resposta tem crescido em progressão aritmética (1,2,3,4,5…) e os desafios tem crescido em progressão geométrica (1,2,4,8,16,32…).
Uma explosão da população estudantil e inexistência de escolas de formação técnico-profissional e de ensino superior capaz de absorver milhares de jovens que saem do sistema e ficam sem alternativas; um mercado de trabalho com um grande excendente de oferta de trabalho, grande parte inqualificada, e grande défice de procura de trabalho, e por isso com uma alta taxa de desemprego; a existência de um sistema de atribuição de bolsas de estudo que além de escasso é altamente injusta, favorecendo quem tem “Padrinho” e muitas vezes quem mais pode.

Cabo-Verde é um País pobre, sem recursos, que ao longo desses pouco mais de 30 anos de independência não produziu muita riqueza, mas produziu um bom número de ricos, com muitas fortunas de origem duvidosa.
Parece evidente que o tráfico de droga e a criminalidade associada é a grande ameaça de Cabo-Verde. É esse o fenómeno que se não fôr combatido pode apodrecer a nossa sociedade e transformar Cabo-Verde num País altamente inseguro.

O tráfico de droga provoca distorções na economia, instrumentaliza a pobreza, tem efeitos colaterais terríveis como o consumo de droga com efeitos nefastos para a saúde pública, e o aumento da criminalidade organizada, além de se afirmar como um forte concorrente ao Poder Político pondo em causa os alicerces de um Estado de Direito Democrático.

A pobreza faz aumentar a insegurança? Creio que não. Ontem Cabo-Verde era muito mais pobre do que é hoje e hoje Cabo-Verde é muito mais inseguro do que era ontem.

Contudo, um sistema que não consegue combater a pobreza, que privilegia sempre as mesmas pessoas, que favorece a perpetuação da pobreza e a agudização das desigualdades sociais e a exclusão social pode aumentar a insegurança. Em Cabo-Verde, toda a gente conhece toda a gente, a pobreza e a riqueza vivem lado a lado e o controlo social tanto no sentido positivo como no sentido negativo é muito forte. Se o sistema se implodir é um Deus nos acuda.

A insegurança é consequência do desenvolvimento? Este argumento não é plausível. Os países mais desenvolvidos do mundo, com os mais altos padrões de vida, como os países nórdicos, não são países inseguros.

O repatriados são os grandes promotores da insegurança que se vive no País? A impressão vai no sentido de que muitos repatriados, principalmente dos Estados Unidos da América (EUA), estão envolvidos em actos de vandalismo, de delinquência e de grande crime que vão acontecendo em Cabo-Verde. Mas também parece evidente que são instrumentalizados por certos sectores da criminalidade em Cabo-Verde. Exige-se um acompanhamento mais rigoroso por parte das autoridades competentes desses cidadãos que são repatriados para Cabo-verde.

Um americano de descendência cabo-verdiana que nasceu nos EUA, que viveu nos EUA, que se fez homem de acordo com os valores e as leis da sociedade americana, que se calhar nunca ouviu falar de Cabo-Verde, e de repente é repatriado para Cabo-Verde é um ser humano que num ápice se sente fora do seu habitat natural.

Então uma pergunta se impõe: é justo que os EUA só com base na descendência repatriem um cidadão que eles criaram de acordo com as suas leis e os seus valores? O que devemos pensar e esperar de um cidadão que a maior potência mundial não sabendo o que fazer com ele decide repatriá-lo para a terra dos seus pais?

Como eles (os EUA) são ricos deviam ajudar-nos a criar as condições de acompanhamento e porque não de reinserção desses cidadãos na sociedade cabo-verdiana. Convêm dizer que existem casos de sucesso de reinserção de repatriados na sociedade cabo-verdiana.

Cabo-Verde é um País aberto ao mundo que elegeu o turismo como motor de crescimento. Muito cedo começamos a sair de Cabo-Verde á procura de melhores condições de vida. Hoje somos também um País de imigração e para sermos coerentes devemos abrir as nossas portas para todos aqueles que queiram visitar-nos e viver connosco. Contudo, exige-se um controlo mais rigoroso das nossas fronteiras. Ninguém deve entrar e sair de Cabo-Verde sem passar por um controlo rigoroso.
A família,quiçá, a instituição mais importante de qualquer sociedade, parece estar em crise em Cabo-Verde. Uma criança que nasce no seio de uma família equilibrada e coesa tem todas as condições para ser ser uma plantinha que cresca, viceje e dê bons frutos.
A gravidez precoce também é outro problema. Uma criança não tem condições de educar adequadamente uma outra criança. O número de crianças que não são registadas pelos pais é uma calamidade em Cabo- Verde.

Em nome da modernidade e da liberdade tem se permitido muitas coisas. Um Pai moderno é um Pai que permite que o seu filho desde de tenra idade comece a dormir fora de casa e a frequentar lugares não aconselháveis para crianças. Coisas impensáveis outrora.

Os locais de vendas de bebidas alcoólicas e de diversão nocturna não tem horas de abrir e nem de fechar em Cabo-Verde.
Eu acho que devemos ser um País moderno e aberto ao mundo. Mas não devemos abdicar dos valores sob os quais se estruturaram a sociedade cabo-verdiana. Valores do trabalho, do sacrifício, do respeito mútuo, da família entre outros… Como dizia o filósofo alemão Jurgen Habermas “ o desenvolvimento dá-se no ponto de confluência entre a tradição e a modernidade”.

A autoridade do Estado tem de se manifestar quando é exigido. A lei que proíbe a entrada e permanência de menores de 18 anos em determinados lugares nunca foi posta em prática e nunca nenhum incumpridor foi penalizado. Não devemos permitir que se instale na sociedade cabo-verdiana a ideia de que o crime compensa.

Sou adepto de um Estado forte quando se trata de defender a liberdade e garantias dos cidadãos. Mas também aceito a restrição da liberdade em nome da segurança colectiva. Quero crer que é preciso uma grande reforma das leis em Cabo-Verde no sentido de adaptá-las aos tempos que correm.
Cabe a sociedade cabo-verdiana trabalhar no sentido de um Cabo-Verde seguro, onde se pode viver num ambiente de paz e tranquilidade.

Em Cabo-Verde temos todas as condições para uma grande qualidade de vida. Um território pequeno onde parece que os dias tem 48 horas e onde num dia se pode fazer tudo o que se quer.

Num mesmo dia pode-se trabalhar, passear, dançar, beber infinitos copos, viajar para uma outra ilha e voltar para o trabalho no dia seguinte. Coisas impraticáveis no mundo ocidental.

A natureza proporcionou-nos um lindo País para viver, com bom clima, e não podemos permitir que actos de vandalismo, de pequena e de grande criminalidade perturbem a nossa tranquilidade.

Mas é preciso que cada um cumpra o seu papel e se complementem uns aos outros. Os poderes públicos, as famílias, as igrejas, as empresas e cada um em particular deve assumir as suas responsabilidades. Caso contrário é um trabalho improfícuo.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A valorização da classe política cabo-verdiana

O objectivo deste texto é discorrer de forma breve sobre aquilo que deve ser feito para a valorização da classe política em Cabo-Verde. Sendo certo que um salário digno é apenas um dos ítens dessa valorização nestas linhas vamos apenas falar sobre o salário auferido pelos Políticos cabo-verdianos.

No sector privado, nas empresas que são geridas de acordo com critérios de gestão empresarial promove-se o mérito e privilegia-se a competência. São organizações viradas para os resultados que procuram a maximização do lucro e por isso promovem a excelência.

Em Cabo-verde o sector privado está a densificar-se a olhos vistos e já praticam salários competitivos. O Jovens qualificados cada vez mais optam pela iniciativa privada e a criam os seus próprios negócios. Isto é, o Estado está a deixar de ser o grande empregador . Este facto até é salutar para a Democracia. Como questionava Milton Friedman “ Pode uma nação verdadeiramente ter liberdade política quando a imprensa escrita pertence ao Estado e os trabalhadores são funcionários do Governo?”

O sector privado está a surgir como o grande concorrente do Estado no recrutamento de quadros.
Se o Estado não criar incentivos com vista á atracção de quadros, se não fôr competitivo neste sentido, não tarda na função pública só vamos ter pessoas que não conseguem encontrar emprego em lado nenhum.

Mas neste particular penso principalmente na classe política, no Presidente da República, no Primeiro Ministro, nos membros do Governo, Deputados e Autarcas, esta classe de dirigentes que lidam com a coisa pública e cujo sucesso no desempenho das suas funçoes está altamente correlacionado com o sucesso das familias, das empresas, dos bancos e da sociedade em geral.

Parece-me evidente que os Políticos ganham mal em Cabo-Verde. Pagar salários mais altos aos Políticos ajuda a valorizar a classe política e contribuir também para a diminuição da corrupção.
Os Partidos Políticos com assento Parlamentar deviam trabalhar no sentido de obter um consenso nesta matéria deixando de lado discursos demagógicos.

Uma questão impõe-se: é aceitável que o Presidente de um Instituto Público tenha um salário três ou quatro vezes superior ao salário do mais alto Magistrado da Nação ou do Primeiro Ministro? Qual deles desempenha cargo de maior responsabilidade?
A este propósito lembro-me , em Portugal , de um Direrctor Geral das Contribuições e Impostos (DGCI), pelos vistos competentíssimo e que fez um trabalho notável á frente da DGCI e que auferia um salário que rondava os 26 mil euros, quando o Primeiro Ministro recebia á volta de 7 mil euros. Esse facto gerou alguma conversa e o salário do tal Director foi substancialmente reduzido, apesar de todos reconhecerem a sua competência e o seu mérito.

Não é minha intenção pôr em causa o salário que cada um aufere. Como economista sei que estudos científicos mostram que as variáveis determinantes do salário são o nível de escolaridade, a habilidade do trabalhador e a experiência. E deve-se estar ciente que a experiência com o tempo torna-se obsoleta. Cada um deve ganhar aquilo que merece ganhar.
A meu ver é preciso bom senso nesta matéria. Não é aceitável que o Presidente da República e o Primeiro Ministro tenham um salário inferioir a 200 mil escudos cabo-verdianos e o mesmo Presidente da República e Chefe de Governo tenham subordinados que auferem um salário de mais de 500 mil escudos cabo-verdianos.

Pode-se sempre invocar o argumento de serviço público, de entrega á causa pública entre outros argumentos. Mas não é todos os dias que alguém está disposto a fazer sacrifícios pessoais e familiares para se disponibilizar ao serviço Público se para tal não tiver incentivos que o justificam.
A meu ver, as melhores cabeças é que devem governar o País. Sem uma governação responsável e competente e sem uma classe dirigente com visão nenhum País vai a lado nenhum.

Notas sobre o caso Freeport. E se fosse em Cabo-Verde?

Nas últimas semanas nasceu um novo escândalo de corrupção na sociedade portuguesa envolvendo altas figuras do Estado como o ex-Ministro do Ambiente do Governo de António Guterres e agora Primeiro Ministro de Portugal, José Sócrates- o caso Freeport. O escândalo tem a ver com eventuais favorecimentos, recebimentos de luvas por parte dos envolvidos na negociação do projecto.

É um caso por si só delicado, não envolvesse o Chefe do Governo de Portugal, uma das mais altas figuras do Estado. O assunto gerou muita celeuma nos últimos dias com comentadores, jornalistas, analistas políticos a esgrimirem argumentos.
O próprio Primeiro Ministro José Sócrates convocou a imprensa para dizer que se trata de mais uma campanha negra com o intuito de o destruir politicamente.

Não é objectivo destas linhas opinar sobre se alguém recebeu ou não luvas, se houve favorecimentos ou não. O que motivou este texto é a postura dos Partidos da Oposição em Portugal relativamente a este caso. Simplesmente notável e de uma grande responsabilidade e sentido de Estado.
Não se ouviu nem do Partido Social Democrata, nem do Partido Comunista Português, nem do Bloco de Esquerda e nem do Partido Popular nenhum pronunciamento com o simples objectivo de tirar dividendos Políticos e assassinar politicamente José Sócrates. E até já estamos em época de pré-campanha eleitoral. Todos foram unânimes em dizer que se há irregularidades as instâncias competentes deviam investigar e que em tempo oportuno haviam de se pronunciar sobre o assunto em questão.

Foi então que dei comigo a pensar: e se fosse em Cabo-Verde? E veio-me á memória a recente gritaria que se fez em relação ao caso Sociedade Lusa de Negócios e o tratamento de lixo tóxico.
Portugal nem é o melhor exemplo nestas matérias. Mas em relação a este caso em concreto o posicionamento dos Partidos da oposição em Portugal devia servir de exemplo aos políticos cabo-verdianos.

De uma vez por todas é preciso pôr termo a uma determinada forma de fazer política em cabo-verde e dizer que na Democracia cabo-verdiana não há lugar para politiqueiros.
Devemos começar a valorizar os nossos políticos, não fossem eles um dos actores mais importantes no sucesso de qualquer País e Cabo-Verde não foge á regra. Não devemos ter sempre uma atitude de desconfiança e de diabolização da classe política.
Até porque apesar dos pesares, desde 1975 a esta parte os políticos cabo-verdianos merecem nota altamente positiva.

Em Cabo-Verde tudo o que é politico ou á política está relacionada é alvo de desconfiança, de difamação de linchamento público.

A classe política deve dar o exemplo através da elevação do discurso politico e de outra forma de estar na Política. A sociedade deve valorizar os seus dirigentes, respeitá-los e exigir deles mais responsabilidades na condução dos assuntos do Estado.

Cabe aos Jovens e á nova classe de dirigentes Politicos que está a germinar em Cabo-Verde contribuir de forma decisiva para uma nova forma de fazer política e para a consolidação da Democracia.

Criação de emprego ou salário mínimo? Qual é a prioridade?

Recentemente, o maior Partido da oposição em Cabo-Verde, o Movimento para a Democracia (MPD), através do seu líder Jorge Santos lançou a proposta da implementação do salário mínimo. O MPD foi até mais longe e na sua proposta de revisão constitucional que há pouco tempo fez chegar ao Parlamento propõe a entrada da norma na lei fundamental do País.

O líder do Partido Africano da Independência de Cabo-Verde e Primeiro Ministro José Maria Neves contrapôs com o argumento de que neste momento a prioridade do País passa pela criação do emprego, pelo aumento da produtividade e pelo crescimento da competitividade da economia antes da implementação do salário mínimo.

Qual é a prioridade para a economia cabo-verdiana no estádio de crescimento e desenvolvimento económico em que se encontra? Implementar o salário mínimo ou trabalhar no sentido de aumentar a produtividade e a competitividade da economia?

Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2007 a percentagem de pobres no País é de 26,6%, a taxa de inflação em 2008 foi 6,8% e a taxa de desemprego ronda os 20%.

Parece claro que a economia cabo-verdiana ainda está a crescer muito abaixo do seu potencial, com uma taxa de desemprego a rondar os 20% de acordo com dados oficiais. A teoria económica diz que quando a economia está a crescer abaixo do seu potencial a taxa de desemprego sobe acima da taxa natural de desemprego e vice-versa.

Isto quer dizer que mais crescimento económico faz com que o desemprego diminui. Mais crescimento obtém-se com mais investimentos público e privado. O Estado deve criar as condições para atrair investimentos privados quer nacionais quer estrangeiros. Mais investimentos traduzem-se na criação de mais postos de trabalho e mais riqueza e consequentemente na redução do desemprego e no combate á pobreza.

Para atrair mais investimento privado, mormente o investimento directo estrangeiro o País tem de ser atractivo aos investidores, ou por outras palavras, tem de ser competitivo. E para ser competitivo tem de ter estabilidade política, social e económica de modo a criar um ambiente favorável aos negócios.
Nenhum investidor arrisca a investir num País que não tem défice orçamental controlado, dívida pública e inflação controladas, isto é, que não tenha os fundamentais da economia estáveis.

A estabilidade de preços é uma das variáveis fundamentais na determinação da competitividade de um País. Um aumento contínuo e generalizado dos preços que em economia se designa por inflação leva a uma apreciação real da moeda do País em análise e faz com que os seus produtos se tornem mais caros relativamente aos do exterior e consequentemente a competitividade da referida economia diminui com consequências nefastas para o emprego.

Apesar de os economistas de inspiração monetarista considerarem a inflação um fenómeno essencialmente monetário que se pode corrigir apenas pela política monetária, não se pode negar que os custos desempenham um papel importante na determinação da inflação, posição esta defendida pelos economistas de inspiração keynesiana.

O aumento dos salários contribui para o aumento dos custos unitários de produção das empresas. As empresas praticam os seus preços praticando uma margem constante sobre os custos unitários de produção. Portanto, mais salário significa custos mais altos de produção que por sua vez traduz-se em preços mais altos e por fim mais inflação.

Paul Krugman, Prémio Nobel de Economia em 2008, afirma que a evidência empírica mostra que os salários são praticados de acordo com a produtividade. Os salários aumentam em cada País mais ou menos alinhados à produtividade. Ou por outras palavras em lado nenhum pratica-se um salário acima da produtividade. Devemos ganhar de acordo com aquilo que produzimos.

Muitos poderão afirmar que Cabo-Verde não pode procurar tornar-se mais competitivo especializando-se em baixos salários. Paul Krugman argumenta que não importa se o custo mais baixo do produto deve-se à alta produtividade ou a salários mais baixos. O que importa ao País é que o seu próprio trabalho é mais barato para produzir um determinado produto X e trocá-lo por outro Y em vez de produzir Y. Diz ainda que certamente salários baixos não é uma posição atraente para se manter, mas que a idéia de que o comércio é bom apenas quando se recebem salários altos é uma falácia.

Numa economia com taxa de desemprego a rondar os 20% a implementação do salário mínimo não faz sentido e conduzia á degradação dos indicadores de competitividade. A prioridade neste momento passa pela criação de condições para que haja mais produtividade e mais competitividade. Investimento em obras que são estruturantes como portos, estradas, aeroportos, aposta na qualificação dos recursos humanos, uma gestão prudente das finanças públicas, redução dos impostos sobre o rendimento das pessoas colectivas e uma política de moderação salarial são entre outras medidas que permitem atingir tal desiderato.

Os argumentos a favor da implementação do salário mínimo são os seguintes: redução das desigualdades sociais; redução da pobreza; reforço da coesão social. A questão é: Faz sentido implementar tal medida quando 20% da população não é beneficiado? Sendo assim, contribui para a redução ou para a agudização das desigualdades sociais?
É preferível que o Estado implemente outras medidas de carácter social relacionadas com o abono de família e pensões sociais em vez de enveredar pela fixação de um salário mínimo.

E caso tal medida fosse avante, qual era o montante adequado? Salário mínimo é um montante fixado por via regulamentar para garantir aos assalariados das categorias mais desfavorecidas um rendimento correspondente ao mínimo vital definido em relaçao a um meio social determinado (Dicionário económico-financeiro, Publicações Dom Quixote).

Qual é esse mínimo vital em relação ao meio social cabo-verdiano? Dez, quinze, vinte, vinte e cinco ou trinta mil escudos? Em Portugal em Janeiro de 2009 o salário mínimo passou a ser de 450 euros o que corresponde a pouco menos de 50 mil escudos cabo-verdianos.
Vamos supôr que se estipule um salário mínimo em Cabo-Verde entre os 15 e os 20 mil escudos. Parece evidente que muitas donas de casa iam preferir dispensar os serviços das empregadas domésticas a pagar esse montante. Da mesma forma muitas pequenas e médias empresas optavam por despedimentos de trabalhadores pouco qualificados e pouco produtivos que neste momento auferem um salário inferior.

Em nosso entender, neste momento, não se deve regulamentar o salário mínimo. Deve-se antes manter a norma de que é preciso criar as condições para a sua implementação.

Portanto, à pergunta: Salário mínimo, sim ou não? Respondia que sim, mas ainda não.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Cara (o) Visitante,

Em primeiro lugar queríamos agradecer a sua visita.

Cabo-Verde vive um momento especial da sua história em que as coisas vão acontecendo a um ritmo acelerado. Verificámos grandes transformações a nível económico, político, social e cultural. A nível mundial as mudanças acontecem à velocidade do som.

Estamos numa época em que grandes oportunidades se abrem aos cabo-verdianos, mas também grandes desafios, o que exige que todos, sem excepção, reflictam sobre os prós e contras daquilo que vai acontecendo nas Ilhas que todos nós amamos.

Parece consensual que o turismo é a nossa galinha de ovos de ouro, o nosso petróleo como disse o nosso Primeiro Ministro. Portanto é preciso investir forte na nossa galinha para que possa produzir ouro em abundância. Mas também é preciso criar as condições para termos uma economia diversificada e não alicerçada apenas no turismo. Preocupa-me muito se os grandes investimentos que vão sendo feitos em Cabo-Verde são acompanhados dos indispensáveis estudos de impacto ambiental.

Cabo-verde que é um País de emigração deve ser um País aberto ao mundo. Devemos acarinhar todos aqueles que escolhem o nosso País para viver, trabalhar ou passar as suas férias. E como quando abrimos as portas e janelas entram coisas boas e coisas más devemos estar atentos. Neste particular penso no tráfico de droga, esse grande mal que se não tiver o devido combate pode apodrecer a nossa sociedade.

Um País como o nosso que ainda não consegue gerar poupanças suficientes para investir deve recorrer a poupanças externas para financiar o seu crescimento. Temos que ser competitivos para atrair mais investimentos externos. O Cabo-verdianos devem aproveitar a dinâmica dos investimentos externos e crescer. O sector privado deve ser o motor de crescimento da economia. Necessitamos de uma classe média forte e com poder económico. Nenhum País até hoje conseguiu desenvolver-se sem uma classe média forte.

A graduação a País de Desenvolvimento Médio (PDM) constitui motivo de orgulho para todos nós. Foram três décadas de trabalho árduo árduo, e hoje volvidos pouco mais de três décadas sobre a nossa independência, podemos dizer que valeu a pena e que afinal nada é impossível e que com trabalho abnegado e criatividade podemos criar coisas inimagináveis.As nossas responsabilidades aumentaram com o Estatuto de PDM. Agora temos que aprender a andar com os nossos próprios pés. A ajuda pública ao desenvolvimento e a concessão de crédito em condições favoráveis vão acabar. Apartir de agora Cabo-Verde terá que criar mais riqueza e gerir as suas finanças públicas de forma rigorosa.

Temos que aumentar a nossa produtividade e temos que ser mais competitivos. Temos que trabalhar mais e aumentar a nossa poupança. Temos que investir mais e criar mais emprego. O Estado deve investir fortemente na qualificação dos cabo-verdianos para que estes possam ser competitivos no mercado de trabalho.

É urgente a emergência de uma classe política, empresarial e intelectual que esteja á altura dos grandes desafios que se nos colocam. Lideranças políticas que elegem a realização do bem comum como a razão da sua existência; uma classe empresarial forte que cria riqueza e emprego e que tenha responsabilidade social; uma classe intelectual que ajuda na formação de novas ideias e contribua para mais sociedade civil em Cabo-verde. Note que em Cabo-Verde há um domínio total do espaço de construção de ideias e opiniões por parte dos políticos e dos Partidos que os sustentam. Urge portanto o aparecimento de uma classe intelectual com pensamento estribado em critérios científicos e livre das influências e interesses de determinadas classes político-partidárias.

Este espaço destina-se a partilhar as nossas ideias sobre a realidade Económica, Política e Social de Cabo-Verde, mas também Mundial. Pretende ser um espaço de reflexão e diálogo. Contamos com a sua participação através de comentários ou outras formas que se mostrarem pertinentes.

Com humildade e respeito pela opinião dos outros esperamos poder contribuir para o debate de ideias e para um Cabo-Verde melhor.

Obrigado pela sua visita.