Cinco anos podem ser considerados, de per si, um período curto na vida de uma Instituição Pública ou Privada. Contudo, se analisarmos de forma meticulosa o trabalho realizado pela Bolsa de Valores de Cabo Verde (BVC) de 2005 a esta parte, somos obrigados a afirmar que os aparentes pouquíssimos cinco anos são, na verdade e em verdade, uma vida de trabalho e de resultados para a BVC.
Volvidos quase cinco anos sobre o funcionamento efectivo dessa Instituição, impõe-se a seguinte questão: que futuro para a Bolsa de Valores, num mercado emergente, e numa pequena economia, que nem Cabo Verde?
O mercado de capitais de Cabo Verde é pequeno, ilíquido e pouco diversificado. É mister trabalhar de forma abnegada, com sentido estratégico e visão clara de futuro, de modo a garantir a sustentabilidade de um mercado exíguo que nem o nosso.
A meu ver, o futuro da Bolsa de Valores de Cabo Verde passa por quatro eixos fundamentais: a educação financeira, a inovação financeira e tecnológica, o desenvolvimento do mercado accionista e a integração da Bolsa de Valores de Cabo-Verde em mercados internacionais. Vamos por partes.
Educação Financeira
A educação financeira é, porventura, um dos maiores desafios do mercado de capitais em Cabo Verde, aliás, um desafio eterno, e enfrentado por mercados muito mais maduros e desenvolvidos que o nosso. Tem como finalidade a promoção de uma cultura financeira forte em Cabo Verde. Nota-se que existe um grande défice de informação e conhecimento acerca desta nova realidade da economia cabo-verdiana.
Tratando-se de mercados de produtos menos intuitivos para muitos investidores - instrumentos financeiros - verifica-se a necessidade de se intensificar a informação e a formação, no sentido de levar a todas as pessoas e aos mais recônditos lugares de Cabo Verde, todas as informações sobre o mercado de capitais em Cabo Verde.
A Educação financeira é uma condição sine qua non para a atracção de pequenos investidores e para a dinamização do mercado secundário.
Inovação financeira e tecnológica
As novas tecnologias potenciam o desenvolvimento de alianças estratégicas, entre mercados de diferentes países. Permitem o acesso a qualquer Praça Bolsista Internacional, a partir de praticamente qualquer localização, ao mesmo tempo que possibilitam o surgimento de formas alternativas de negociação, tendencialmente a baixos custos de informação e de transacção.
A aposta em soluções inovadoras e a diversificação da oferta de instrumentos financeiros é outro pilar sobre o qual se pode estruturar o futuro da BVC. Neste particular, penso na criação de um “Segundo Mercado”, no “Mercado sem cotações” e nas “Acções Preferenciais”. A regulamentação da Figura de Consultores de Investimentos e Market Makers são outros itens importantes. Em outros exercícios prometemos discorrer sobre a racionalidade da criação do “Segundo Mercado” e das “Acções preferenciais” em Cabo Verde.
O mercado accionista
Em Cabo Verde o mercado accionista é ainda muito tímido, com apenas quatro empresas cotadas no segmento accionista. Urge atrair mais Empresas para esse segmento. O futuro da Bolsa passará por um mercado accionista dinâmico, até porque, as obrigações são produtos de duração limitada.
Aquele mercado é considerado pela literatura económica e financeira como o segmento mais importante do mercado de capitais e com maior relevância para a actividade económica.
Integração da Bolsa de Valores em mercados internacionais
As economias modernas são abertas e caracterizadas por uma forte mobilidade internacional de capitais. Nos últimos tempos, verifica-se uma tendência para a globalização dos mercados. Os Estados se juntam em grandes blocos económicos, no sentido de criar sinergias que lhes permitem ganhar competitividade e enfrentar com maior probabilidade de sucesso épocas de incerteza e turbulência. Esta necessidade põe-se com mais acuidade quando se trata de economias frágeis, vulneráveis e pequenas, como a nossa.
Uma economia pequena encontra-se muito exposta a choques externos e precisa de âncoras que lhe permitem suportar o seu crescimento e enfrentar turbulências a que está sujeita uma pequena embarcação no mar alto da economia global.
Os mercados financeiros não ficaram alheios a esse processo de globalização e são, actualmente, mercados muito internacionalizados. Os agentes económicos procuram cada vez mais alternativas de financiamento e de aplicação das suas poupanças fora da sua área monetária. Temos o exemplo da NYSE EURONEXT, a maior e a mais líquida Bolsa do Mundo, que integra as Bolsas de Lisboa, Paris, Bruxelas, Amesterdão, o mercado de Derivados de Londres (Liffe) e a Bolsa de Nova Yorke.
A Parceria Especial com a União Europeia e as boas relações com os EUA, permitem-nos sonhar e ousar em integrar a BVC na NYSE Euronext. As relações privilegiadas com Países como Angola e Brasil constituem uma janela de oportunidades para o mercado de capitais cabo-verdiano, que pode almejar em estabelecer acordos de reconhecimento mútuo com a Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), e o mercado de capitais de Angola. Imaginem só a visibilidade que as nossas empresas cotadas teriam no mundo financeiro global!
A Parceria Especial com a União Europeia e as boas relações com os EUA, permitem-nos sonhar e ousar em integrar a BVC na NYSE Euronext. As relações privilegiadas com Países como Angola e Brasil constituem uma janela de oportunidades para o mercado de capitais cabo-verdiano, que pode almejar em estabelecer acordos de reconhecimento mútuo com a Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), e o mercado de capitais de Angola. Imaginem só a visibilidade que as nossas empresas cotadas teriam no mundo financeiro global!
São duas as vantagens imediatas da integração em mercados internacionais: a atracção do capital estrangeiro para o crescimento interno e uma maior oportunidade de diversificação para os investidores nacionais.
A confiança e a relação com a Banca
Mais dois tópicos assaz importantes para o futuro de qualquer Bolsa, incluindo a Cape Verde Stock Exchange: a confiança e o relacionamento entre a Banca e a Bolsa.
A confiança é um requisito imprescindível no relacionamento entre o mercado de capitais e os investidores. Os investidores estão, pura e simplesmente, interessados em ganhar dinheiro. Por isso, exigem confiança, liquidez, segurança e rentabilidade. A quebra de confiança, por causa de um eventual não pagamento de cupão ou reembolso do principal, faria cair o “Carmo e a Trindade”.
A Banca e a Bolsa não se podem ver nem ser vistos como concorrentes ou inimigos. Essas duas faces de uma mesma moeda – mercados financeiros – juntos, podem desempenhar um papel decisivo no crescimento da economia cabo-verdiana. Se não vejamos!
Os Bancos estão mais vocacionados para a concessão do crédito de curto prazo. O mercado de capitais está mais virado para o crédito de médio e longo prazo. Há portanto uma partilha do risco de concessão de crédito entre o mercado monetário e o mercado de capitais. Os Bancos ajudam as Empresas a colocar os seus títulos no mercado, e beneficiam com isso, sem incorrerem em riscos de concessão de crédito. Os próprios Bancos na qualidade de empresas têm necessidade de emitir acções para reforçar o capital, bem como obrigações para complementar os depósitos de clientes.
Como diria o meu ilustre Professor e Orientador J. C. Rodrigues da Costa da Euronext Lisbon, “a Banca e o mercado de Capitais não são concorrentes irreconciliáveis, antes pelo contrário, estas duas metades de um sistema financeiro doméstico desenvolvido complementam-se mutuamente tal como as duas pernas de uma pessoa: uma equilibra a outra e, também cada uma impulsiona a outra”.
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