quinta-feira, 18 de março de 2010

Carlos Veiga reduzido a tapete pelos estudantes em Portugal

Numa sala bem composta de jovens de todas as sensibilidades, Carlos Veiga ficou surpreendido quando se lhe deparou uma assembleia muito bem preparada técnica e politicamente, mas sobretudo muito bem apetrechada em termos de dados estatísticos sobre a realidade económica, política e social de Cabo-Verde.


Estavam reunidas as condições para um grande debate. Mas não houve um grande debate. Foi um debate possível e mais à frente vamos perceber a razão. Carlos Veiga perdeu de forma inequívoca o confronto com os estudantes. Se não, vejamos!

Começou a sua intervenção dizendo que não tinha preparado nada e que estava ali para ter uma conversa aberta com os estudantes. Disse que Cabo-Verde cresceu bem e que os diversos governos desde a independência contribuíram para o crescimento do País e que, actualmente, o País está bem. Falou do défice e da dívida e considerou que o risco da economia é alto nos dias que correm.

Estava lançado o debate. Ao ser confrontado com um relatório do Fundo Monetário Internacional, segundo o qual, o risco da economia de Cabo-Verde permanece baixo e que os esforços de combate à crise, os fortes apoios sociais, mas também os grandes investimentos públicos que estão programados justificavam o défice e a dívida prevista para 2010, Carlos Veiga fez a sua primeira afirmação grave da tarde: “não me preocupo com o que dizem estas organizações internacionais”, desvalorizando desta forma os relatórios de eminentes organizações internacionais como o FMI, o Banco Mundial, a Organização das Nações Unidas, a OCDE, o Eurostat, entre outras.
Como é que um homem que já governou Cabo-Verde durante dez anos, que tanto recorreu aos relatórios dessas organizações quando eram favoráveis ao seu Governo, organizações que são importantes parceiros no desenvolvimento de Cabo-Verde, porque financiam avultados investimentos, tenha coragem de fazer tal afirmação? Será porque esses relatórios são favoráveis ao Governo de José Maria Neves?

Mais grave ainda: como é que um candidato a Primeiro-Ministro de Cabo-Verde tem a coragem de proferir tal enormidade numa Universidade, casa do saber, e ante uma assembleia de estudantes do ensino superior, que ao longo do curso estudam e analisam vários relatórios dessas organizações? Não é um insulto à inteligência dos estudantes, a essas organizações e à Instituição que lhes facultou o espaço para o encontro? Ainda bem que não estava ninguém na sala em representação da Universidade.

Na Convenção do MPD Veiga disse que Cabo-Verde está à beira do precipício. Mas na sua intervenção inicial apresentou uma visão de um Cabo-Verde que está a crescer bem e de forma progressiva desde a independência.
Ora se assim é, ao afirmar que Cabo Verde – que, relembramos, segundo Veiga teve desde 1975 um percurso ascendente e progressivo – está hoje “num plano inclinado e á beira do precipício”, então a questão que se impõe é esta: onde estávamos quando ele abandonou o governo para se candidatar à presidência da República há 10 anos atrás? Em queda livre no precipício?

Quando um estudante lhe confrontou com essa flagrante contradição no seu discurso, Veiga optou por, a partir daí, abraçar a sua “tese do precipício”. Isto é, Veiga, diz e desdiz, afirma e desmente-se com uma facilidade assustadora.

O debate continuou. Um Jovem pediu a palavra para questionar Carlos Veiga sobre o investimento do INPS na Electra. De acordo com afirmações de Carlos Veiga, “o INPS só deve investir em produtos de baixo risco e alta rendibilidade”. O jovem estudante disse-lhe que ele revelou não saber do que estava a falar. Simplesmente, porque tal produto não existe, já que uma maior rendibilidade advém precisamente do maior risco a que se incorre e a prémios de risco mais elevados que se exige ao se investir num determinado produto financeiro.

No final o tal jovem rematou “eu perdoo ao Sr. Carlos Veiga porque disse que não se preparou para o debate. Portanto, da próxima espero que venha devidamente preparado”.

O debate acabou aqui. Os jovens, militantes e amigos do MPD que estavam na sala ao se aperceberem que os estudantes estavam muito bem preparados e que a tarde não ia ser fácil para o seu líder, começaram a manipular as inscrições, a excluir pessoas que já estavam inscritas e a incluir na lista de inscrições pessoas claramente afectas ao MPD, algumas que entraram na sala quando as inscrições já estavam encerradas.

Foi então que um jovem pediu a palavra para dizer que estranhava como é que pessoas que entraram muito atrasadas na sala estavam inscritas para intervir e outras que há muito estavam inscritas, pura e simplesmente, não puderam intervir. Esse jovem até perguntou: “há inscrições online”?

Quando um jovem lhe pediu para comentar uma afirmação de José Maria Neves em que este considerava-lhe um líder do passado, completamente ultrapassado e sem ideias alternativas para Cabo-Verde, Veiga respondeu que ele nem ligava porque “Neves está a copiar e a implementar muitas ideias minhas na governação”. Quando um outro jovem lhe pediu para dar pelo menos um exemplo de uma medida copiada por Neves, Veiga gaguejou, hesitou e…fugiu à questão.

A partir deste momento, Carlos Veiga tomou a palavra para responder às questões e falou durante mais de uma hora para queimar o tempo e assim não dar oportunidade de réplica aos estudantes. É a democracia à moda de Carlos Veiga e do MpD. Falou sobre várias questões, como o desemprego, a pobreza, a suposta fraude eleitoral de 2001, repisou algumas questões durante vários minutos e esgotou completamente o tempo disponível para o debate.

Visivelmente perturbado, com um semblante carregado, quando falava não encarava as pessoas nos olhos, ou via para o chão ou para o tecto, ao ponto de uma senhora dizer que “Carlos Veiga parece desconfiado do próprio Carlos Veiga”.

Se um jovem pedisse a palavra e se apresentasse como sendo do Concelho de Santa - Cruz, Veiga aproveitava a oportunidade para dizer que se devia construir uma estrada asfaltada para Santa Cruz em vez de, por exemplo, Assomada - Rincão. Se um outro se apresentasse como de Rincão Veiga dizia que a estrada Assomada – Rincão era importante para o desenvolvimento daquela zona e que o desperdício era na estrada Mindelo - Calhau. E assim sucessivamente.

Mas teve tempo e talento para proferir mais uma afirmação gravíssima e que deixou estupefactos os presentes na sala. Carlos Veiga disse que perdeu as eleições presidenciais em 2001 por causa de fraude eleitoral, e que havia segmentos na Polícia e no Exército que lhe manifestaram a sua prontidão para actuar prontamente, e que ele por causa dos superiores interesses da Nação, não marchou na rua com os polícias e militares. Consideramos que se devia responsabilizar Carlos Veiga por tais palavras.

Disse que o desemprego em Cabo-Verde é de cerca de 27%, que a pobreza ultrapassa os 40%, que os investimentos públicos em Cabo-Verde contribuem para aumentar as importações, porque em Cabo-Verde nem papel higiénico produzimos.

Não sabemos onde é que Carlos Veiga foi buscar tais dados. Mas também se ele não liga nenhuma às instituições que produzem os dados estatísticos só lhe resta inventar.

Quando Pires saiu em 1991 deixou a Carlos Veiga uma taxa de desemprego a rondar os 26%. Quando Veiga saiu em 2001 deixou a José Maria Neves uma taxa desemprego de 25%. Os últimos dados do Instituto do Emprego e Formação profissional apontam para uma taxa de desemprego de 17,8% em 2008.

Cabo-Verde é apontado pela Organização das Nações Unidas como um dos poucos a conseguir atingir os objectivos do desenvolvimento do Milénio em 2015. De 2001 a esta parte a pobreza baixou cerca de 10%. Quando Veiga saiu em 2001 a taxa de pobreza era superior a 35%, sendo 30% considerados muito pobres.

Veiga disse que nunca insultou nenhum adversário político. Todos nós estamos lembrados que o discurso político mais violento da curta história da democracia cabo-verdiana foi protagonizado por Carlos Veiga em 1991 quando apelidava os então dirigentes do PAICV de “ mamadores, ladrões e assassinos ”.

Quem já foi Primeiro-Ministro de Cabo-Verde durante 10 anos e vai a um debate com os estudantes, diz e desdiz, manipula os dados sobre a realidade económica e social, profere afirmações gravíssimas e tamanhas inverdades como as supracitadas, é incoerente e incongruente e queima 80% do tempo disponível para o debate em questões menores e malabarismos, é porque teve medo da assembleia e perdeu o debate de forma inequívoca!


jluisneves@hotmail.com