quinta-feira, 23 de abril de 2009

O regresso daquele que nunca tinha ido

Parece que sim, que Carlos Veiga voltou mesmo. Ao contrário de muita boa gente eu saúdo o regresso do grande líder do MPD, que voltou, decerto, mais para salvar o MPD do que para salvar Cabo-Verde.
Parece também certo que definitivamente não vamos ter Carlos Veiga como candidato a Presidência da República em 2011. Embora, com Carlos veiga tudo seja possível. Quem alguma vez diria que Veiga cometesse a proeza de chefiar um Governo com dois Primeiros Ministros? E quando a classe jurídica cabo-verdiana e alguns notáveis internacionais disseram que era um atropelo grave e um desrespeito de todo o tamanho ao Presidente da República, o grande Veiga respondeu do alto do seu pedestal: estou sozinho, mas eu é que estou certo.
Portanto, de Carlos Veiga pode-se esperar tudo. Até pode-se esperar que se ele vencer as legislativas de 2011 passado algum tempo, ele que é o Messias, o Todo Poderoso, o Salvador, à semelhança do que fez Hitler em 1933 na Alemanha destitua o Presidente da república das suas funções e acumule as funções de Primeiro Ministro e Presidente da República em nome do interesse nacional e à semelhança de Luís XIV proclamar: O Estado sou eu.
O regresso de Veiga à liderança do MPD vem baralhar todo o cenário político que se avizinha. Afinal o MPD vai ter de arranjar um novo candidato ao Palácio do Plateau. Não será muito difícil advinhar que a ideia é Veiga a Primeiro Ministro, Jorge Carlos Fonseca a Presidente da República e Jorge Santos a Presidente da Assembleia Nacional. Aliás, há muito que escreveram e mandaram o João Dono publicar no notasdodono.blogspot.com que assim será.
Joao Dono, coitado, apoderaram-se da sua consciência. O João já não é Dono do seu pensamento. Muda de pensamento se calhar mais vezes do que muda de outras coisas. Dizem que só não muda de pensamentos quem não os tem. Mas o João veio provar que esse ditado está errado. Diz e dezdiz precisamente porque não é Dono do seu pensamento.
Já propôs Veiga para Presidente, Elísio Freire para líder do MPD, Filú para concorrer com Veiga, Veiga para líder do MPD, Veiga para Primeiro Ministro para salvar a Pátria, apoiou Milton para Presidente da JPD e Nuias Silva para Presidente da JPAI.... e segundo fla fla até se ofereceu ao PAICV como Candidato a Presidente da Câmara da Ilha do Maio em 2008.
Como jovem eu fico muito triste ao ver Jovens a serem manipulados desta forma. Mas só tenho de respeitar as opções que cada um faz. Neste como em outras coisas, já dizia o outro "o problema de cada um é com cada qual".
José Maria Neves ainda não se pronunciou se pretende avançar para mais um mandato como Chefe do Governo e nem se pretende concorrer à Presidência da República. Parece que vamos ter de esperar pelo próximo Congresso do PAICV para termos algumas luzes sobre o que pretende Maria Neves no pós 2011.
Mas quase todos já vaticinam o embate do século entre Neves e Veiga em 2011. E se José Maria decidir retirar-se em 2011? Ou então se ele decidir avançar à Presidência da República? Se algumas dessas hipóteses se confirmarem o cenário político fica ainda mais baralhado.
Um dado parece adquirido: pelas bandas do MPD há a certeza de que Neves é um candidato forte e que vai concorrer a um terceiro mandato como Primeiro Ministro. E, então era preciso recorrer a Veiga que é o único que pensam ser capaz de destronar José Maria Neves.
Pessoalmente, gostaria de ver as lideranças políticas renovadas em 2011. Tanto do lado do PAICV como do lado do MPD. São os dois grandes partidos da Democracia Cabo-Verdiana. Da qualidade dos dirigentes desses dois Partidos depende a qualidade do futuro de Cabo-verde.
Mas, quando se esperava principalmente do lado do MPD que está na oposição desde 2001, que se renovasse e apresentasse novas lideranças e novos projectos aos cabo-verdianos, eis que o Movimento ventoinha decide recuar 20 anos e vai buscar líder de 1990.
O que acho mais engraçado nisso tudo é o argumentário que o MPD e Veiga começam a construir para fragilizar José Maria Neves e o seu Governo. Dizem que José Maria Neves está esgotado e cansado.
Sinceramente, não percebo como é que alguém que vê com olhos de ver a cara de Veiga e de Neves consegue ver que Neves está mais cansado do que Veiga. Acho que aquele que supostamente estava a descansar parece mais cansado do que aquele que está a governar e a juntar os cacos que o MPD deixou desde 2001.
Os próximos tempos políticos em Cabo-Verde vão ser interessantes se Veiga conseguir vencer a liderança do MPD ( pode não conseguir também). Vai ser interessante vê-lo como oposição a Neves. Mais interessante será ainda se Neves decidir concorrer a um terceiro mandato como Chefe do Governo e defrontar Veiga nas legislativas de 2011.
Em 2011 os dois vão ter cada um 10 anos de trabalho para apresentarem. Será interessante ver os dois Políticos a apresentarem as obras dos seus respectivos Governos.
O debate político em 2011 já não será apenas José Maria a prestar contas dos seus dois mandatos mas também Veiga a prestar contas dos seus dois mandatos. Até este momento apenas o Gualberto respondeu por tudo o que aconteceu na década de noventa.
Mas é claro que queremos um debate virado para o futuro. Vamos esperar pelos próximos episódios. Daqui até 2011 ainda muitas àguas vão rolar.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O aumento de desempregados com curso superior .A verdade dos números.

Segundo os dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP)- Inquérito ao Emprego 2008 - a população activa aumentou de 183.254 mil, dos quais 33.574 mil estavam desempregadas em 2006 para 198.855 mil em 2008.


Significa que mais 15.601 mil pessoas passaram a contar para efeitos de cáculo da taxa de emprego ou de desemprego.


Dos 198.855 mil em 2008, 163.379 mil estavam empregadas e 35.476 mil estavam desempregadas, o que corresponde a uma taxa de desemprego de 17, 8%.


De 2006 a 2008 a taxa de desemprego desceu ligeiramente de 18,3% para 17,8%, uma variação de 0,5 pontos percentuais. Não obstante, a população desempregada subiu de 33.574 mil em 2006 para 35.476 mil em 2008, isto é mais 1902 desempregados. A população empregada subiu de 149.680 mil em 2006 para 163.379 mil em 2008, isto é, mais 13.699 mil empregados.


A população desempregada aumentou de 2006 a 2008, mas a população empregada aumentou sete vezez mais, de tal sorte, que o aumento da população activa em 15.601 mil foi quase totalmente absorvida pela criação de 13.699 mil postos de trabalho.


Concluímos que em termos reais houve um grande esforço de criação de emprego nesses dois anos, esforço esse que a dimininuição de apenas 0,5 pontos percentuais na taxa de desemprego esconde completamente.


O desemprego é mais elevado entre as mulheres. Em 2008 22% da população activa feminina estava desempregada e 13,8% da população activa masculina estava desempregada.


Há mais desempregados na zona urbana (22,7%) do que na zona rural (13,1%). De 2006 a 2008 o desemprego na zona rural caiu de 16,7% para 13,1%, uma diminuição de 3,6 pontos percentuais.


Em 2006 13,4% da população activa com curso superior estava desempregada e em 2008 o desemprego das pessoas com curso superior subiu para 21,8% o que corresponde a um aumento de 8,4 pontos percentuais, um aumento significativo. O número de desempregados com curso superior passou de 880 para 1377 entre 2006 e 2008.


Em 2008 apenas 4% da população empregada tinha curso superior e igualmente 4% dos desempregados tinham curso superior. Há mais mulheres do que homens com curso superior e desempregados.


Uma questão impõe-se: numa economia pequena e sem recursos naturais que nem Cabo-Verde, que tem apostado fortemente na qualificação dos recursos humanos para combater o desemprego e crescer, como é que se explica esse aumento significativo dos desempregados com formação superior? Não parece contraditório?


Para ajudar a responder a essa questão convém ainda analisar os dados sobre o emprego e desemprego por ramo de actividades.


De 2006 a 2008 foram criados 22.645 mil empregos e destruídos 8.944 mil empregos, o que dá um saldo positivo de 16.701 mil empregos.


Os ramos de actividades onde se criaram empregos são: agricultura e pescas (8.439 mil); construção (4.328 mil); comércio (324); alojamento e restauração(2); Transportes e comunicações(425); actividades imobiliárias(272); famílias com empregados(365); outros(8.490)


Na indústria extractiva, indústria transformadora e electricidade, actividades financeiras, serviços às empresas, administração pública, educação, saúde, outros serviços e organismos internacionais, em todos estes ramos houve destruição de emprego.


Por conseguinte, em jeito de resumo podemos dizer o seguinte: o aumento significativo de desempregados com curso superior pode dever-se á fraca criação de empregos nas áreas que exigem formação superior ou ainda á fraca procura de trabalho dirigida a determinadas áreas de formação.


Ao analisarmos com alguma atenção os ramos onde se criaram e se destruiram empregos verificámos que se calhar o mercado de trabalho necessita mais de pessoas com cursos técnicos e profissionais.


Seria interessante analisar os dados sobre a evolução do número de pessoas com curso superior que pode ter aumentado e muito nos últimos anos, por causa da proliferação de Instituições do Ensino Superior em Cabo-Verde. O mercado de trabalho pode não estar a acompanhar o ritmo do aumento da oferta de trabalho com curso superior.
Também não acho que o mercado de trabalho em Cabo-Verde já está saturado de licenciados. A cidade da Praia pode já estar saturada. E as outras ilhas? Mas mais: Num País onde se recorre a alunos do 12º ano para leccionar como professores no ensino primário e secundário não percebo como é que haja pessoas com curso superior e desempregadas. Pode-se sempre começar em algum lado e porque não no sistema de ensino?
A economia cabo-verdiana cresceu em média mais do que 5% ao ano. Fizeram-se grandes investimentos públicos que vão contribuir para a criação de condições para mais investimento privado. Mas é preciso levar em conta o desfasamento que existe entre esses investimentos e a sua repercussão na economia real, nomeadamente na diminuição da taxa de desemprego.


A meu ver os poderes públicos devem trabalhar no sentido de gerir as ofertas de cursos tanto em termos quantitativos, como em tipologias, de acordo com as necessidades do mercado de trabalho cabo-verdiano, de modo a evitar o aumento de pessoas que fazem um grande investimento na sua formação pessoal e ficam sem retorno.