quarta-feira, 8 de abril de 2009

O aumento de desempregados com curso superior .A verdade dos números.

Segundo os dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP)- Inquérito ao Emprego 2008 - a população activa aumentou de 183.254 mil, dos quais 33.574 mil estavam desempregadas em 2006 para 198.855 mil em 2008.


Significa que mais 15.601 mil pessoas passaram a contar para efeitos de cáculo da taxa de emprego ou de desemprego.


Dos 198.855 mil em 2008, 163.379 mil estavam empregadas e 35.476 mil estavam desempregadas, o que corresponde a uma taxa de desemprego de 17, 8%.


De 2006 a 2008 a taxa de desemprego desceu ligeiramente de 18,3% para 17,8%, uma variação de 0,5 pontos percentuais. Não obstante, a população desempregada subiu de 33.574 mil em 2006 para 35.476 mil em 2008, isto é mais 1902 desempregados. A população empregada subiu de 149.680 mil em 2006 para 163.379 mil em 2008, isto é, mais 13.699 mil empregados.


A população desempregada aumentou de 2006 a 2008, mas a população empregada aumentou sete vezez mais, de tal sorte, que o aumento da população activa em 15.601 mil foi quase totalmente absorvida pela criação de 13.699 mil postos de trabalho.


Concluímos que em termos reais houve um grande esforço de criação de emprego nesses dois anos, esforço esse que a dimininuição de apenas 0,5 pontos percentuais na taxa de desemprego esconde completamente.


O desemprego é mais elevado entre as mulheres. Em 2008 22% da população activa feminina estava desempregada e 13,8% da população activa masculina estava desempregada.


Há mais desempregados na zona urbana (22,7%) do que na zona rural (13,1%). De 2006 a 2008 o desemprego na zona rural caiu de 16,7% para 13,1%, uma diminuição de 3,6 pontos percentuais.


Em 2006 13,4% da população activa com curso superior estava desempregada e em 2008 o desemprego das pessoas com curso superior subiu para 21,8% o que corresponde a um aumento de 8,4 pontos percentuais, um aumento significativo. O número de desempregados com curso superior passou de 880 para 1377 entre 2006 e 2008.


Em 2008 apenas 4% da população empregada tinha curso superior e igualmente 4% dos desempregados tinham curso superior. Há mais mulheres do que homens com curso superior e desempregados.


Uma questão impõe-se: numa economia pequena e sem recursos naturais que nem Cabo-Verde, que tem apostado fortemente na qualificação dos recursos humanos para combater o desemprego e crescer, como é que se explica esse aumento significativo dos desempregados com formação superior? Não parece contraditório?


Para ajudar a responder a essa questão convém ainda analisar os dados sobre o emprego e desemprego por ramo de actividades.


De 2006 a 2008 foram criados 22.645 mil empregos e destruídos 8.944 mil empregos, o que dá um saldo positivo de 16.701 mil empregos.


Os ramos de actividades onde se criaram empregos são: agricultura e pescas (8.439 mil); construção (4.328 mil); comércio (324); alojamento e restauração(2); Transportes e comunicações(425); actividades imobiliárias(272); famílias com empregados(365); outros(8.490)


Na indústria extractiva, indústria transformadora e electricidade, actividades financeiras, serviços às empresas, administração pública, educação, saúde, outros serviços e organismos internacionais, em todos estes ramos houve destruição de emprego.


Por conseguinte, em jeito de resumo podemos dizer o seguinte: o aumento significativo de desempregados com curso superior pode dever-se á fraca criação de empregos nas áreas que exigem formação superior ou ainda á fraca procura de trabalho dirigida a determinadas áreas de formação.


Ao analisarmos com alguma atenção os ramos onde se criaram e se destruiram empregos verificámos que se calhar o mercado de trabalho necessita mais de pessoas com cursos técnicos e profissionais.


Seria interessante analisar os dados sobre a evolução do número de pessoas com curso superior que pode ter aumentado e muito nos últimos anos, por causa da proliferação de Instituições do Ensino Superior em Cabo-Verde. O mercado de trabalho pode não estar a acompanhar o ritmo do aumento da oferta de trabalho com curso superior.
Também não acho que o mercado de trabalho em Cabo-Verde já está saturado de licenciados. A cidade da Praia pode já estar saturada. E as outras ilhas? Mas mais: Num País onde se recorre a alunos do 12º ano para leccionar como professores no ensino primário e secundário não percebo como é que haja pessoas com curso superior e desempregadas. Pode-se sempre começar em algum lado e porque não no sistema de ensino?
A economia cabo-verdiana cresceu em média mais do que 5% ao ano. Fizeram-se grandes investimentos públicos que vão contribuir para a criação de condições para mais investimento privado. Mas é preciso levar em conta o desfasamento que existe entre esses investimentos e a sua repercussão na economia real, nomeadamente na diminuição da taxa de desemprego.


A meu ver os poderes públicos devem trabalhar no sentido de gerir as ofertas de cursos tanto em termos quantitativos, como em tipologias, de acordo com as necessidades do mercado de trabalho cabo-verdiano, de modo a evitar o aumento de pessoas que fazem um grande investimento na sua formação pessoal e ficam sem retorno.

2 comentários:

Fonseca Soares disse...

Muito boa análise... e sobretudo muito obrigado pela quantidade e qualidade dos dados aqui publicados.
Abraço

EUZINHA MESMO disse...

oi, gostei muito do seu blog, porque reflete mesmo a política do nosso país!! Um horror, né!