sexta-feira, 5 de junho de 2009

Um olhar sobre o debate entre o Presidente da JPAI e o Presidente da JPD

Segui com muita atenção o debate entre Nuias Silva, Presidente da Juventude do Partido Africano da Independência de Cabo-Verde (JPAI), e Miguel Monteiro, Presidente da Juventude para a Democracia (JPD). A minha leitura, que é apenas uma leitura entre as outras, é a de que o debate foi paupérrimo. Se não vejamos!
O Debate teve como prato forte o desemprego. O desemprego merece um debate sério em Cabo-Verde. É um problema estrutural da nossa economia e um dos mais terríveis problemas da sociedade. Estar sem emprego significa estar privado de umas das principais fontes de rendimento, o rendimento do trabalho, com todas as consequências que daí advém. Deste modo, não se podia escolher melhor tema para os líderes das juventudes partidárias debaterem.
O líder da JPD pareceu-me melhor preparado para o debate, com um verbo muito mais fluente e desenvolto. Fez algum trabalho de casa e sustentou muitos dos seus argumentos com números. Tive oportunidade de debater com ele em Lisboa a questão do salário mínimo na apresentação do projecto de revisão constitucional do MPD. Tem qualidades para ser um bom político.
O Nuias Silva parecia mais nervoso e titubeante. Ao longo do debate foi ganhando tranquilidade e acabou por sair-se globalmente bem. Mas eu quero mais do meu Presidente e acho que o meu Presidente tem condições de dar muito mais. O líder da Juventude do partido que está no poder tem tendência de fazer o discurso do governo, de apresentar e defender as obras do governo e de se pôr à imagem do líder do seu partido e Primeiro Ministro. É o Primeiro Ministro em potência.
Eu prefiro um líder trabalhador, que arregace as mangas e galvanize a juventude, que juntamente com o Partido e o Governo encontrem as melhores soluções para os Jovens. A JPAI deve ascultar a Juventude cabo-verdiana, conceber e propôr ao Partido, ao Governo e à sociedade a sua visão de Cabo-Verde.
Então, porque é que eu considero que o debate foi pobre? Foi pobre, porque não trouxe nenhum valor acrescentado, nenhuma visão de fundo à questão do combate ao desemprego. Debater o desemprego em Cabo-Verde a partir de um encontro promovido pelo Primeiro Ministro com os Jovens empreendedores não me pareceu o mais adequado.
O moderador priviligeou as picardias políticas, as disputas partidárias em vez de um debate a fundo da questão e os dois jovens politicos seguiram pelo mesmo diapasão. Nuias Silva a defender o Governo e Miguel Monteiro ao ataque a culpar o Governo pelo desemprego. Debateu-se o Governo, o MPD, o PAICV, José Maria Neves e Carlos Veiga. Não se debateu o desemprego.
Penso que ser líder da JPAI ou da JPD é assunto sério. São estruturas partidárias juvenis dos dois maiores partidos cabo-verdianos, partidos esses com vocação de poder.
As Juventudes partidárias funcionam como viveiros de futuros líderes partidários e consequentemente futuros altos dirigentes do País. E como tal, os líderes dessas organizações devem ser portadores de uma visão do futuro para Cabo-Verde, para os grandes desafios que se colocam a Cabo-Verde neste século que acabou de começar.
Por conseguinte, é o momento de nós jovens cabo-verdianos e toda a sociedade sermos mais exigentes com as estruturas juvenis partidárias. Ou então continuamos a lamentar de que no PAICV e em Cabo-Verde não haja ninguém para substituir José Maria Neves e o MPD tenha que regressar ao líder de 1990, que ao que me parece já deu tudo o que tinha a dar a Cabo-Verde e "quem dá tudo o que tem a mais não é obrigado".
A JPAI e a JPD não devem funcionar apenas como trampolim para mais altos voos. Não devem ser utilizados pelos jovens como o palco que lhes permite ganhar visibilidade política sem conteúdo. Devem antes ser utilizados como fórum de debate, de construção de ideias e de buscas de soluções para os problemas que afectam os jovens cabo-verdianos.
É neste sentido que, na minha opinião, devia se aproveitar o debate para aferir qual é a visão que os líderes das Jotas tem para Cabo-Verde e a leitura que fazem desse grande problema que é o desemprego.
O modelo de crescimento e desenvolvimento que está a ser implementado é o mais adequado para Cabo-verde? Quais os modelos alternativos? O caminho que está a ser seguido é o mais adequado para combater o desemprego que há muito identificamos? Aqui é que devíamos centrar o debate porque aqui é que reside o cerne da questão.
Porque é que o produto interno bruto de Cabo-Verde sempre cresceu nas últimas duas décadas e o desemprego teima em não cair? O PIB per capita cresceu de tal sorte que à luz dos critérios das Nações Unidas Cabo-Verde deixou de ser país menos avançado e passou a ser país de desenvolvimento médio, mas o desemprego "continua teimosamente de pé". Porquê?
O MPD diz que a década em que governaram o país foi a época de ouro do crescimento económico cabo-verdiano, com crescimento a dois dígitos, com taxa de crescimento médio anual acima dos 5%, mas quando deixaram o Governo em 2000 também deixaram o desemprego acima dos 30%.
O que é que está a falhar? É a má distribuição da riqueza que se cria no país? O crescimento económico não diminui o desemprego? Mais do que criar riqueza o país só está a criar ricos? Mais Estado ou menos Estado na economia? Que política de emprego e de formação profissional? O ensino superior está virado para as necessidades do mercado de trabalho? O que é que Nuias e a JPAI, Miguel Monteiro e a JPD pensam sobre essas questões? O debate não foi esclarecedor.
Estou de acordo com o Abrãao quando ele diz que vai propôr mais encontros entre os líderes das Jotas. Acho que faz sentido. Mas não só. Eu propunha-lhe que organizasse um grande debate com a participação de mais jovens, jovem com partido e jovens sem partido, jovens que podiam directamente colocar as suas questões ao líderes das jotas.
Cabo-Verde é um país muito jovem e cabe aos jovens participarem activamente no processo de construção de ideias e soluções para resolver os problemas da camada jovem.
Por fim, queria parabenizar a televisão de Cabo-Verde e o Programa 180º. Se não estou equivocado é a primeira vez que se faz um lado a lado entre os líderes das Juventudes do PAICV e do MPD.

1 comentários:

Edson Medina disse...

boa leitura...levantaste questões pertinentes quanto ao desemprego e formas de o entender e resolver em CV.
Abraços