sexta-feira, 26 de junho de 2009

A entrevista que Carlos Veiga concedeu à Juventude do MPD

Acabamos de ouvir a entrevista que Carlos Veiga concedeu à Juventude do MPD. Num contexto de disputa interna essa mesma Juventude devia dar as mesmas oportunidades aos candidatos Jorge Santos e José Luís Livramento. Mas isso é lá com eles.

Carlos Veiga é um grande cabo-verdiano, uma figura incontornável na história de Cabo-Verde e um dos grandes obreiros da democracia cabo-verdiana. Foi Primeiro Ministro de Cabo-Verde durante dez anos e apesar dos pesares merece a nossa consideração e respeito.

Porém, temos profundas divergências de pontos de vista em relação a ele. Achamos que ele foi um péssimo democrata, governou muito mal durante a década de 90 e deixou o País à beira do precipício. Para não falar do estado caótico em que deixou o MPD que até hoje o Partido ainda não se reencontrou.

Da entrevista ouvimos um Carlos Veiga a falar do passado, aliás grande parte da entrevista foi dedicada a falar do passado. O Homem gosta de falar do passado do PAICV, do Partido Único, da Polícia Política, da Milícia Popular, do 31 de Agosto em Santo Antão etc.

Em 1991 Carlos Veiga fez uma campanha violenta contra o PAICV. Apelou ao ódio e à perseguição dos dirigentes do então Partido Único, apelidando-os de mamadores e de assassínos.

Na campanha de 1995 fez o mesmo tipo de discurso acrescido de um novo ingrediente. Os militantes amigos e simpatizantes do PAICV passaram a ser os profanadores dos templos católicos em Cabo-Verde. E prometeu que finda a campanha iria trabalhar arduamente para meter na prisão todos os profanadores dos templos católicos em Cabo-Verde. Como se do poder Judicial se tratasse.

Numa altura em que se esperava um discurso de união, de paz, de amor e de reconciliação, o grande democrata fez exactamente o contrário. Instigou o ódio, a perseguição, a vingança e a divisão no seio da grande família Cabo-Verdiana.

Hoje, volvidos quase 9 anos depois de o MPD ter perdido o Poder e depois de duas derrotas ante o Comandante Pedro Pires, Carlos Veiga continua a falar do passado, do Partido Único, da fraude eleitoral.

Agora, na sua conversa do passado introduziu uma nuance: resolveu fazer mea culpa e dizer que perderam o poder porque foram arrogantes, autistas, intransigentes etc. O que é que um homem não faz e não diz quando está a perseguir o poder?

Até aqui tudo bem. O problema surge quando Carlos Veiga começa a falar do presente e do futuro de Cabo-Verde.

Quando ele falou das políticas alternativas ao Governo do PAICV vê-se que o Homem não tem políticas alternativas nenhumas. Quando ele fala da economia de mercado vê-se que o Homem não sabe e não percebe nada de economia de mercado.

Carlos Veiga não tem nenhuma ideia inovadora para Cabo-Verde. Não é portador de uma visão estratégica para Cabo-Verde. Podemos estar enganados. Mas desafiamos quem conhece uma ideia de Carlos Veiga para Cabo-Verde, quem conhece a visão dele para Cabo-Verde que "atire a primeira pedra".

Não se pode querer ser alternativa a este Governo baseando-se apenas na ideia de que o Governo está esgotado, cansado e que o Primeiro Ministro está cansado. É preciso apresentar muito mais. É preciso apresentar um verdadeiro projecto alternativo para Cabo-Verde.

Na minha opinião qualquer cabo-verdiano que se sente em condições de dar algo para o país tem o direito de apresentar a sua candidatura seja a que cargo fôr. Posso não estar de acordo, mas não condeno.

Mas convenhamos que esse regresso de Carlos Veiga às lides partidárias e principalmente como candidato ao cargo de Primeiro Ministro não soa bem. Carlos Veiga como candidato a Presidente da República soava melhor.

Esperava-se que o MPD se renovasse neste novo tempo e não recorresse à velha guarda da década de 90 que são os rostos do fracasso em Cabo-Verde.

Mas isso também e lá com eles.

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