sexta-feira, 25 de março de 2011

Que Bolsa de Valores para Cabo-Verde?

Antes de ingressarmos na Bolsa de Valores de Cabo-Verde (BVC), tivemos o ensejo de conhecer parte do mundo, que é a NYSE Euronext, um Templo do Capitalismo. Frequentamos um exigente, intensivo e exaustivo estágio profissional em Lisboa, na Euronext Lisbon, filial do Grupo NYSE Euronext, e na Interbolsa, Central de Liquidação e Custódia, filial da Euronext Lisbon, na Cidade do Porto.

Foi uma experiência enriquecedora! Perguntaram-nos, quais eram as nossas expectativas? Ganhar uma visão transversal sobre funcionamento de uma Bolsa de Valores e a sua importância para a economia -
retorquimos. Fomos, então, brindados com uma inestimável orientação conceptual.

 O Grupo bolsista NYSE Euronext é um mercado global, a maior e a mais líquida Bolsa do mundo. Inclui a New York Stock Exchange (NYSE), a maior Bolsa do mundo ao nível do mercado accionista; a NYSE Euronext, o maior mercado da Zona Euro em transacções de acções; a NYSE Liffe, a Bolsa de Derivados, líder na Europa por valor negociado; e a NYSE Arca Options, uma das plataformas Americanas de negociação de opções com o mais rápido crescimento.
Tem escritórios em Amesterdão, Belfast, Bruxelas, Chicago, Hong Kong, Lisboa, Londres, Nova Iorque, Paris, Pequim, São Francisco, Singapura e Tóquio. Adquiriu ou está em processo de adquirir, posições em acções na Bolsa da Índia, India’s Multi Commodity Exchange e BOVESPA, detentor da Bolsa de São Paulo. E tem alianças estratégicas com a Bolsa de Tóquio e o Mercado de Abu Dhabi.


Volvidos cinco anos sobre o início das actividades da BVC, temos de trabalhar para consolidar os ganhos obtidos.

Que Bolsa de Valores para Cabo-Verde? Uma Bolsa moderna, global, dinâmica, liquida e profunda; que assegura óptima qualidade, eficiência, confiança e valor; uma alternativa de financiamento para o Estado e as empresas e aplicação das poupanças dos aforradores; um Templo da Economia e das Finanças.

Como implementar essa visão? Elegemos quatro eixos como estratégicos: cultura financeira; crescimento do mercado accionista; inovação financeira e tecnológica; internacionalização da BVC.

Que tipo de liderança? Uma liderança com capacidade de ouvir e gerir as pessoas com bom senso; energética, mas não tóxica, ressonante, que inspira confiança e credibilidade; ser humilde, mormente, numa organização que está a construir-se; os próprios líderes podem e devem, de vez em quando, descer ao “chão da fábrica” e procurar formar-se em coisas básicas. O Presidente de uma Bolsa é uma figura importante e ouvida no mercado; tem de ser cauteloso e ter estratégia; não cair na tentação de resvalar para uma promoção pessoal em detrimento do mercado.

Acerca dos recursos humanos. Pessoas com capacidade de acompanhar a mudança, utilizar as diferenças, trabalhar em equipa e com profissionalismo; ter uma política interna virada para a qualificação e manutenção de pessoas, através de pacotes salariais e motivacionais atractivos, visibilidade, autonomia e notoriedade aos colaboradores.

Regulação, desmutualização. Não regulamentar o bom senso ou criar regulamentos que se tornam empecilhos ao bom funcionamento dos mercados. A BVC deve ser preparada para, a sua desmutualização, isto é, passar de natureza pública para a natureza privada.

Cultura finanaceira. Muitos pensam que o mercado cresce porque há novos produtos, inovações e novas tecnologias que estão constantemente a ser desenvolvidas e apreciadas. Não obstante, uma das razões pelas quais os investidores não tentam entrar num mercado é porque não o entendem. O resto do país não pode manter-se arredado da realidade da Bolsa. Por conseguinte, educação financeira para combater o défice de cultura financeira: parcerias com orgãos de comunicação social e universidades; pós-graduação em mercados e investimentos financeiros; incentivar produção de papers, teses de mestrado e doutoramentos e editá-los; criar bibliotecas especializadas em economia e finanças; partilhar experiências e conhecimentos com Jornalistas, Políticos, Advogados, Juízes e Juristas Especializados; publicar artigos nos jornais de grande circulação; criar um programa de televisão para promover a Bolsa.

Promover as empresas. Atrair novas empresas e reter as que já lá estão, constituem uma das tarefas primordiais de qualquer Bolsa. A Bolsa tem o dever de, pró – activamente, promover o mercado doméstico e cada uma das empresas cotadas, com honestidade, frugalidade e profissionalismo; promover saídas e levar os grandes decisores nacionais; ser dinâmica e dar visibilidade ao mercado; promover encontros na Bolsa entre as empresas e a comunicação social; ajudar as empresas na direcção e relação com os investidores; realizar um Congresso sobre Corporate Governance, de modo a promover a melhoria do Governo das Sociedades, tão importante para a economia, quanto o Governo da República.

Mercado Especial da Dívida Pública (MEDIP). Criar um mercado especial para a dívida pública, onde os particulares possam participar activamente. Na fase inicial de uma Bolsa são importantes, privatizações de grandes empresas, interessantes para criar liquidez e acompanhadas de benefícios fiscais. A iniciativa parte do Estado (accionista).

Relacionamento com a Banca. A Banca e a Bolsa não se podem ver nem ser vistos como concorrentes ou inimigos. São duas faces de uma mesma moeda e, juntos, podem desempenhar um papel decisivo no crescimento da economia cabo-verdiana. Os Bancos estão mais vocacionados para a concessão do crédito de curto prazo. O mercado de capitais está mais virado para o crédito de médio e longo prazo. Há, portanto, uma partilha do risco de concessão de crédito entre o mercado monetário e o mercado de capitais. Os Bancos ajudam as Empresas a colocar os seus títulos no mercado, e beneficiam com isso, sem incorrerem em riscos de concessão de crédito. Os próprios Bancos na qualidade de empresas têm necessidade de emitir acções para reforçar o capital, bem como obrigações para complementar os depósitos de clientes.

Como diria o meu ilustre Professor e Orientador J. C. Rodrigues da Costa da Euronext Lisbon, “a Banca e o mercado de Capitais não são concorrentes irreconciliáveis, antes pelo contrário, estas duas metades de um sistema financeiro doméstico desenvolvido complementam-se mutuamente tal como as duas pernas de uma pessoa: uma equilibra a outra e, também cada uma impulsiona a outra”.

Internacionalização da BVC. Um mercado pequeno, ilíquido e pouco profundo como o nosso precisa integrar-se e/ou estabelecer alianças estratégicas com outros mercados. São duas as vantagens imediatas da integração em mercados internacionais: a atracção do capital estrangeiro para o crescimento interno e uma maior oportunidade de diversificação para os investidores nacionais.


Por que não, ousar integrar a BVC na NYSE Euronext e estabelecer alianças estratégicas com a futura Bolsa de Angola e com a BOVESPA? As relações priviligeadas com o Brasil, Angola e EUA, o Estatuto Especial da União Europeia, podem ajudar-nos na realização desses sonhos. As nossas empresas poderiam cotar-se nos Estados Unidos ou na Europa, ou Cross-list e negociar em duas das principais moedas mundiais – dólar e euro e obter acesso à maior base de clientes dos EUA, europeus e globais, e dos maiores centros de liquidez (liquidity pools): EUA e Zona Euro.


Temos de acreditar que os sonhos se podem realizar e não apodrecer na cabeça dos seus sonhadores.

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