quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Bolsa de Valores de Cabo Verde. Que futuro?

Cinco anos podem ser considerados, de per si, um período curto na vida de uma Instituição Pública ou Privada. Contudo, se analisarmos de forma meticulosa o trabalho realizado pela Bolsa de Valores de Cabo Verde (BVC) de 2005 a esta parte, somos obrigados a afirmar que os aparentes pouquíssimos cinco anos são, na verdade e em verdade, uma vida de trabalho e de resultados para a BVC.
Volvidos quase cinco anos sobre o funcionamento efectivo dessa Instituição, impõe-se a seguinte questão: que futuro para a Bolsa de Valores, num mercado emergente, e numa pequena economia, que nem Cabo Verde?
O mercado de capitais de Cabo Verde é pequeno, ilíquido e pouco diversificado. É mister trabalhar de forma abnegada, com sentido estratégico e visão clara de futuro, de modo a garantir a sustentabilidade de um mercado exíguo que nem o nosso.
A meu ver, o futuro da Bolsa de Valores de Cabo Verde passa por quatro eixos fundamentais: a educação financeira, a inovação financeira e tecnológica, o desenvolvimento do mercado accionista e a integração da Bolsa de Valores de Cabo-Verde em mercados internacionais. Vamos por partes.
Educação Financeira
A educação financeira é, porventura, um dos maiores desafios do mercado de capitais em Cabo Verde, aliás, um desafio eterno, e enfrentado por mercados muito mais maduros e desenvolvidos que o nosso. Tem como finalidade a promoção de uma cultura financeira forte em Cabo Verde. Nota-se que existe um grande défice de informação e conhecimento acerca desta nova realidade da economia cabo-verdiana.
Tratando-se de mercados de produtos menos intuitivos para muitos investidores - instrumentos financeiros - verifica-se a necessidade de se intensificar a informação e a formação, no sentido de levar a todas as pessoas e aos mais recônditos lugares de Cabo Verde, todas as informações sobre o mercado de capitais em Cabo Verde.
A Educação financeira é uma condição sine qua non para a atracção de pequenos investidores e para a dinamização do mercado secundário.
Inovação financeira e tecnológica
As novas tecnologias potenciam o desenvolvimento de alianças estratégicas, entre mercados de diferentes países. Permitem o acesso a qualquer Praça Bolsista Internacional, a partir de praticamente qualquer localização, ao mesmo tempo que possibilitam o surgimento de formas alternativas de negociação, tendencialmente a baixos custos de informação e de transacção.
A aposta em soluções inovadoras e a diversificação da oferta de instrumentos financeiros é outro pilar sobre o qual se pode estruturar o futuro da BVC. Neste particular, penso na criação de um “Segundo Mercado”, no “Mercado sem cotações” e nas “Acções Preferenciais”. A regulamentação da Figura de Consultores de Investimentos e Market Makers são outros itens importantes. Em outros exercícios prometemos discorrer sobre a racionalidade da criação do “Segundo Mercado” e das “Acções preferenciais” em Cabo Verde.
O mercado accionista
 Em Cabo Verde o mercado accionista é ainda muito tímido, com apenas quatro empresas cotadas no segmento accionista. Urge atrair mais Empresas para esse segmento. O futuro da Bolsa passará por um mercado accionista dinâmico, até porque, as obrigações são produtos de duração limitada.
Aquele mercado é considerado pela literatura económica e financeira como o segmento mais importante do mercado de capitais e com maior relevância para a actividade económica.
 Integração da Bolsa de Valores em mercados internacionais
As economias modernas são abertas e caracterizadas por uma forte mobilidade internacional de capitais. Nos últimos tempos, verifica-se uma tendência para a globalização dos mercados. Os Estados se juntam em grandes blocos económicos, no sentido de criar sinergias que lhes permitem ganhar competitividade e enfrentar com maior probabilidade de sucesso épocas de incerteza e turbulência. Esta necessidade põe-se com mais acuidade quando se trata de economias frágeis, vulneráveis e pequenas, como a nossa.
Uma economia pequena encontra-se muito exposta a choques externos e precisa de âncoras que lhe permitem suportar o seu crescimento e enfrentar turbulências a que está sujeita uma pequena embarcação no mar alto da economia global.
Os mercados financeiros não ficaram alheios a esse processo de globalização e são, actualmente, mercados muito internacionalizados. Os agentes económicos procuram cada vez mais alternativas de financiamento e de aplicação das suas poupanças fora da sua área monetária. Temos o exemplo da NYSE EURONEXT, a maior e a mais líquida Bolsa do Mundo, que integra as Bolsas de Lisboa, Paris, Bruxelas, Amesterdão, o mercado de Derivados de Londres (Liffe) e a Bolsa de Nova Yorke.


A Parceria Especial com a União Europeia e as boas relações com os EUA, permitem-nos sonhar e ousar em integrar a BVC na NYSE Euronext. As relações privilegiadas com Países como Angola e Brasil constituem uma janela de oportunidades para o mercado de capitais cabo-verdiano, que pode almejar em estabelecer acordos de reconhecimento mútuo com a Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), e o mercado de capitais de Angola. Imaginem só a visibilidade que as nossas empresas cotadas teriam no mundo financeiro global!
São duas as vantagens imediatas da integração em mercados internacionais: a atracção do capital estrangeiro para o crescimento interno e uma maior oportunidade de diversificação para os investidores nacionais.
A confiança e a relação com a Banca
Mais dois tópicos assaz importantes para o futuro de qualquer Bolsa, incluindo a Cape Verde Stock Exchange: a confiança e o relacionamento entre a Banca e a Bolsa.
A confiança é um requisito imprescindível no relacionamento entre o mercado de capitais e os investidores. Os investidores estão, pura e simplesmente, interessados em ganhar dinheiro. Por isso, exigem confiança, liquidez, segurança e rentabilidade. A quebra de confiança, por causa de um eventual não pagamento de cupão ou reembolso do principal, faria cair o “Carmo e a Trindade”.
A Banca e a Bolsa não se podem ver nem ser vistos como concorrentes ou inimigos. Essas duas faces de uma mesma moeda – mercados financeiros – juntos, podem desempenhar um papel decisivo no crescimento da economia cabo-verdiana. Se não vejamos!
Os Bancos estão mais vocacionados para a concessão do crédito de curto prazo. O mercado de capitais está mais virado para o crédito de médio e longo prazo. Há portanto uma partilha do risco de concessão de crédito entre o mercado monetário e o mercado de capitais. Os Bancos ajudam as Empresas a colocar os seus títulos no mercado, e beneficiam com isso, sem incorrerem em riscos de concessão de crédito. Os próprios Bancos na qualidade de empresas têm necessidade de emitir acções para reforçar o capital, bem como obrigações para complementar os depósitos de clientes.
Como diria o meu ilustre Professor e Orientador J. C. Rodrigues da Costa da Euronext Lisbon, “a Banca e o mercado de Capitais não são concorrentes irreconciliáveis, antes pelo contrário, estas duas metades de um sistema financeiro doméstico desenvolvido complementam-se mutuamente tal como as duas pernas de uma pessoa: uma equilibra a outra e, também cada uma impulsiona a outra”.

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