terça-feira, 17 de março de 2009

Ainda a propósito da visita de José Sócrates a Cabo-Verde


Nos últimos dias muito se tem falado sobre a famosa viagem do Primeiro Ministro de Portugal, José Sócrates, a Cabo-Verde, com uma comitiva de 120 pessoas, entre Ministros, Secretários de Estado, Empresários entre outros.


Nunca na minha vida ouvi tantas asneiras da parte de alguns analistas portugueses quando analisavam a visita de Sócrates a Cabo-Verde.

E só para citar um exemplo num debate televisivo vi um jovem ( coitado, não sabia o que dizia) a dizer que não percebia o que é que Sócrates ia fazer a Cabo-Verde para no fim rematar que ele foi lá distribuir os computadores magalhães enfermos de defeitos para acrescentar mais problemas aos muitos que Cabo-Verde já tinha como a malária, a ébola e as dificuldades do quotidiano.

Outros disseram que Sócrates fortemente contestado em Portugal foi lá para receber carinho do Povo cabo-verdiano para se sentir grande no meio de gente pobre e pequeno.

Esse jovem não imagina nem de longe e nem de perto que os indicadores de saúde em Cabo-Verde são melhores do que alguns países europeus e que a malária e a ébola não fazem parte do nosso vocabulário. De resto, não vale a pena tecer mais comentários de tão pobres que são essas opiniões.

Do lado de Cabo-Verde doeu-me ver que muitas pessoas, entre políticos, bloggers, analistas, preferiram pôr enfase em questões menores, outras mesquinhas até, e não em questões essenciais . Muitos preferiram falar dos defeitos do Magalhães, da propaganda política, do passeio, das lagostas...

Uma coisa ninguém pode negar: essa visita foi um sucesso a todos os níveis. Pareceu-me ser muito bem organizada pelas autoridades cabo-verdianas, com todos os pormenores para que nada falhasse. Acho que desde de 1975 nunca nenhum Chefe de Estado ou de Governo fez uma visita oficial a Cabo-Verde que se traduziu em tantos resultados práticos como essa visita do Chefe de Governo de Portugal.

Muitos disseram que não se justificava uma tão grande comitiva para Cabo-Verde dada a relativa diminuta importância económica do arquipélago. Cabo-Verde é uma pequena economia aberta com aproximadamente 530 mil habitantes (cerca de 0,17% da população da Euro Àrea) e com um Produto Interno Bruto (PIB) que representa apenas 0,01% do PIB da Euro Àrea.

Em Portugal vivem milhares de cabo-verdianos que dão a sua contribuição para o desenvolvimento desse País. Em Portugal estudam milhares de estudantes cabo-verdianos. Em Cabo-Verde há importantes investimentos de Portugueses principalmente no sector financeiro.

Cabo-Verde não tem o petróleo de Angola e da Venezuela, nem ouro e nem diamante. Mas somos um País com estabilidade política, social e económica, a nossa democracia é uma referência no mundo, temos grandes potencialidades a nível do turismo, e uma posição geo-estratégica importante.

Cabo-Verde tem sido um bom aluno. Sempre geriu bem os recursos que foram postos à sua disposição. Num contexto de total ausência de recursos naturais o País apostou fortemente na educação, na qualificação e valorização dos recursos humanos e fez um bom percurso ao longo desses anos de independência. Cabo-Verde deve ser portanto um orgulho para Portugal.

A importância económica de Cabo-Verde pode ser diminuta. Mas só os laços históricos, a proximidade cultural, incluindo a língua comum, e a proximidade geográfica justificam que as duas Repúblicas aprofundem os laços de cooperação, que cada vez mais vai passar a ser parceria estratégica, porque Cabo-Verde também já tem muito a dar a Portugal.

Não podia terminar sem antes referir que foi com gosto que ouvi o Dr. Basílio Horta, Presidente da Agência de Promoção de Investimentos de Portugal numa entrevista na RTP Àfrica quando confrontado com a questão se justificava uma tão grande comitiva para Cabo-Verde ele respondeu mais ou menos isso: os investimentos não podem ser avaliados só em termos quantitativos mas também em termos qualitativos. Consideramos que investir em Cabo-Verde é um investimento na qualidade.

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